Enquanto caminhava, Eloise ficou encantada com o paralelepípedos que cobriam a rua Solais de Borboleta. Virava-se a todo instante para enxergar as velhas vitrines cobertas por suas promoções mesmo que as peças fossem perdendo suas cores conforme permaneciam lá. Eloise apenas não compreendia o que as moças da cidade viam naqueles vestidos caros e floridos sendo que o charme estava na simplicidade. O que muitos não viam, era que Eloise tinha uma sensibilidade para enxergar as coisas de outro modo. Um exemplo fora que enquanto as outras crianças corriam para a barraquinha de pipocas, Eloise estava admirando os paralelepípedos de uma rua que ficava ao centro da cidade, onde as pessoas corriam para pegar o trem na estação, onde velhos jogavam xadrez ocupados com sua concentração e onde crianças preferiam brincar com balanços e gangorras. Ela se perguntava quantas pegadas foram deixadas ali e seus motivos - pegadas que nem o tempo pôde apagar.
A mãe de Eloise, uma mulher de seus trinta e tantos anos, com um chapéu vermelho bordado chegou de suas compras na barraca do seu Jerônimo, um velhinho simpático e sem paciência para xadrez e essas coisas. Enquanto a mãe procurava as chaves do carro, Eloise admirava uma livraria no outro lado da rua com certa curiosidade, mas sabia que sua mãe tinha que chegar a tempo de preparar o almoço para seu pai, então ela teve de guardar a curiosidade a todo custo dentro de si, pois nada tinha a fazer.
Chegando em casa, Eloise devorou o que tinha na sacola trazida pela mãe e logo depois voltou a devorar, mas não comida, e sim, seus livros da escola. Enquanto estudava, ela não tirava a imagem daquela livraria e agora sua curiosidade começava a devorá-la também.
Ela foi até o escritório de seu pai tentar procurar algum livro que pudesse saciar a sua fome por algo novo, mas tudo o que encontrou foram livros de romance, enciclopédias e nada que lhe interessasse. Voltou para seu quarto com a decepção em seu coração e foi dormir tentando trocar a decepção por um pouco de esperança passageira.
No outro dia, ela e sua mãe voltaram à rua Solais de Borboleta para comprar presentes de natal, Eloise voltou a olhar a livraria com mais curiosidade do que no dia anterior, então entraram em uma loja ao lado da livraria onde havia decorações de todos os tipos. Enquanto a mãe de Eloise ficava encantada com tudo aquilo, não percebia que a filha estava encantada com algo ao lado da loja. Depois de comprarem tudo, saíram da loja e Eloise permaneceu imóvel ao ver a livraria tão de perto, quisera ela entrar antes de sua mãe dizer: ''Vamos para casa, Elô''.
A mãe, percebendo a tensão da filha resolveu mudar o trajeto do dia e entrar na livraria, o que fez com que coração de Eloise saltasse de alegria.
Começou uma busca pelo inalcançável aos seus tão pequenos olhos, até encontrar um livro simples de um escritor que ela mal conseguia pronunciar, o livro se chamava ''Um Sonho Pintado''. Seu coração acelerou e de repente paralisou quando sua mãe disse que podia levá-lo.
Ao mesmo tempo em que ia para o caixa pagar seu livro, ela olhava admirada para todos aqueles livros, todas aquelas histórias e tanta magnitude acrescentadas em páginas.
Chegando ao caixa o atendente disse: − Custa cinco reais e trinta e dois centavos.
Quando ele disse isso, Eloise teve a certeza de que não só estaria levando um livro para casa, mas um amigo para vida toda.
Dedico este texto inteiramente ao Maicon Feijó, do qual me inspirou para criá-lo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é sempre bem vinda.